Amigos da engenharia e curiosos, estamos aqui para mais um artigo de planejamento de obras de infraestrutura e hoje trataremos do tema na sua essência: o Plano de Ataque da Obra. Mas, primeiramente, se você não leu os artigos anteriores sugiro que o faça antes de acompanhar este ( Introdução, Níveis e Roteiro, EAP e durações).
Então vamos ao tema, o que seria o plano de ataque ou o plano de execução de uma obra? Há pouca informação teórica sobre o tema, o que é preocupante e até de certa forma explica a pouca assertividade que existe a respeito da elaboração do planejamento e execução das obras. De forma sucinta o plano de ataque é como um ‘memorial descritivo’ de como a obra será executada, levando-se em conta aspectos técnicos, de localização, de clima e logístico para a execução. No primeiro texto eu citei que planejamento não era apenas cronograma, era justamente a esta etapa que eu estava me referindo, assim como um projeto não é definido somente pelas plantas em si, existe o detalhamento, memoriais, descritivos e etc.
Com relação a parte técnica do plano de ataque, se define:
1 – a sequência executiva dos serviços, o que é preciso que esteja pronto para que o próximo serviço seja feito. Sim, existem sequencias que são lógicas como o subleito tem que vir antes da base que consequentemente tem que vir antes da capa asfáltica (CAUQ), isso é lógico e intuitivo, porém existem atividades que podem ser feitas em etapas diferentes, como a execução das guias (que podem vir antes ou depois do subleito por exemplo).
2 – a sequência executiva da obra. Pela divisão dos trechos a serem executados, por qual local se iniciará determinado serviço. Para esta análise também há demandas técnicas como por exemplo, as redes de drenagem e esgoto devem ser executadas de jusante para montante, a sequência de serviços de pavimentação geralmente se inicia do ponto alto para o ponto baixo. Porém também existem outros fatores dependendo do layout da obra, das necessidades do cliente, da logística dentro do canteiro (falaremos mais sobre isso quando abordarmos linha de balanço, em texto futuro).
3 – as alternativas construtivas, cada vez mais tem-se utilizado a industrialização na construção e isso, ainda de maneira tímida, se reflete nas obras de infraestrutura. Os dispositivos pré-fabricados nas redes de drenagem e esgoto (poços de visita, caixas de inspeção, bocas de lobo) tem sido cada vez mais utilizados, assim como os muros de fechamento, etc.
4 – as medidas de controle de qualidade para liberação dos serviços, utilizando-se das normas, manuais e especificações técnicas de órgãos como o DNIT, DER, concessionárias ou da própria empresa.
5 – aspectos voltados a segurança do trabalho e meio ambiente que se façam necessários como a definição de possíveis EPC’s, previsão de sinalização para a obra em trechos nas proximidades de ruas existentes, plano de descarte de resíduos, adaptações no canteiro para atendimento destas demandas como local próprio para abastecimento e manutenção em equipamentos, etc.
Levando-se em conta os outros aspectos do plano de ataque (logística, localização e clima) ainda é possível definir:
1 – Desde o dimensionamento do canteiro para atender, além do pessoal, o estoque de materiais, até a deposição de materiais em locais estratégicos já pensando na execução e evitando-se transportes desnecessários dentro da obra. Como geralmente temos obras de grandes dimensões quanto mais evitarmos estas movimentações, menos tempo perderemos durante o dia produtivo. Pensando em obras de loteamento, quando chegar um caminhão de tubo, este já deve ser descarregado ao lado de onde será assentado de modo que a escavadeira jogue o solo escavado de um lado e a tubulação já esteja do outro.
2 – Serviços de apoio em geral, como por exemplo em qual posto de gasolina os veículos leves (e eventualmente os pesados) irão abastecer, a alimentação de onde virá, alojamento (caso necessário), transporte público ou outra solução para transporte dos funcionários, postos de saúde e hospitais nas proximidades, lojas de materiais de construção para eventuais necessidades de obra, etc.
3 – Análise do terreno da obra, verificação do tipo de solo para cálculo de empolamento e dimensionamento de frota de caminhões para a movimentação de terra, se em situação de chuva é possível transitar pelo terreno ou se será necessário a utilização de via de serviço com brita eventualmente. Se a topografia do terreno é acidentada, ou não, isso implica em algumas verificações como se os caminhões conseguem subir determinados trechos totalmente carregados. O caminhão betoneira que trás o concreto da guia é o principal exemplo, porque geralmente as concreteiras já não permitem volumes acima de 5 a 6 m³ em cada viagem devido a consistência deste tipo de concreto, quando se trata de trecho em subida íngreme então, este volume será ainda menor e isto terá impactos relevantes na produção da obra.
4 – Análise climática e principalmente pluviométrica da região em que se encontra a obra, como as médias de chuva mês a mês e a quantidade de dias improdutivos. Estas estatísticas ajudam nas definição das durações das atividades (texto passado) e deverão ser levadas em conta quando for definido o cronograma (texto futuro).
5 – Demais análises dos serviços a serem executados e as atividades implícitas necessárias para a realização destes, como por exemplo em que local o caminhão ‘pipa’ vai buscar água para a execução do subleito.
Espero que tenha acrescentado algo sobre o tema. Estou a disposição para dúvidas, críticas e sugestões.
Luiz H. Berloffa
Sócio-diretor da Planinfra – Projetos, Planejamento e Gerenciamento de Obras de Infraestrutura Ltda