Amigos da engenharia e curiosos sobre o assunto, bem vindos ao primeiro de uma série de textos curtos e diretos ao ponto que farei sobre o planejamento de obras voltado para a área que atuo desde minha época de estagiário a longínquos 17 anos da data que escrevo este artigo: Infraestrutura e Construção Pesada. Este artigo é motivado pela falta de referências voltadas para este ramo, muito se fala sobre construção civil que é similar, porém há diferenças e nisso que irei me basear a partir do próximo artigo. Para tanto este primeiro terá de fugir um pouco do “curto e direto”, até para podermos nivelar os conhecimentos e definir algumas coisas que, dependendo do autor, pode haver diferenças, mas tudo isso por uma boa causa.
Primeiramente, vamos limitar a abrangência de obras de infraestrutura a experiência deste que vos escreve, ainda não tive a oportunidade de projetar, executar ou gerenciar obras ferroviárias, metroviárias ou em obras de arte especiais (pontes e viadutos) portanto vamos abordar as obras de terraplenagem, drenagem, pavimentação e saneamento voltadas para suas aplicações diversas (Rodovias, Shopping Centers, Centros Logísticos, Hipermercados, etc.), mas os exemplos devem quase sempre se resumir em obras de loteamentos que quase sempre abrangem todos estes tipos de disciplinas.
Outro ponto importante para a introdução aos aspectos relacionados ao planejamento é definir o que realmente significa planejamento, muita gente acha que cronograma é planejamento e isso não é verdade. Uma das definições de planejamento que retirei do dicionário diz: “Planejamento: Ação de preparar um trabalho, ou um objetivo, de forma sistemática”, ou seja, envolve sistematizar uma preparação de (no nosso caso) uma obra. O cronograma é apenas uma das ferramentas (desta sistematização) do planejamento que por sua vez é uma das ferramentas do gerenciamento de obras e que ajudam a responder “o que” será feito e “quando” (isso se for feito em gráfico de Gantt) e “onde” (se representarmos em gráfico de linhas de balanço). Mas para podermos responder todas as outras perguntas do método 5W2H (uma das ferramentas utilizadas em planejamento e gestão) faltam ainda: “porque”, “quem”, “como” e “quanto custa”. As outras ferramentas que ajudam a responder estas perguntas são a EAP, o cronograma físico-financeiro, histograma de mão de obra e equipamentos, as Curvas ‘S’, e etc. Mas fique calmo, muitos deles derivam ou são consequência um do outro. E agora, você deve estar se perguntando “e o orçamento?”.
Não mencionei o dito cujo pelo simples fato de que o orçamento não é parte do planejamento e sim ambos fazem parte do gerenciamento da obra. Mas não há dúvida nenhuma que os dois são intimamente dependentes entre si, até o mais simples orçamento feito as pressas em um papel de pão tem, mesmo que implicitamente, um planejamento embutido pelo simples fato de que o tempo de obra ou a sequencia executiva implicam em alteração de custo.
Outra coisa importante de se salientar é que mesmo o melhor planejamento (ou orçamento) é, por definição, estimativo e portanto a sua única certeza é que ele será alterado. Sim, você planeja sabendo vai errar (alguém no fim do ano passado planejou alguma obra considerando a pandemia que estamos passando?). Lógico que ,estatisticamente, erra muito menos e com muito menos impacto quem planeja. Isso porque o planejamento inicial (sim aquele que o pessoal geralmente guarda na gaveta da obra e nunca mais tira) é apenas o norte inicial da execução da obra, muitas coisas acontecem no meio do caminho (uma pandemia por exemplo) que fazem com que as arestas sejam aparadas e o prosseguimento das atividades não deixe ninguém frustrado, atrasado e com menos dinheiro (isso só para citar as principais consequências de uma obra mal planejada). Por isso que geralmente a palavra ‘planejamento’ deve vir acompanhada da palavra ‘controle’. Veremos isso mais para frente.
Para finalizar esta longa introdução (como prometido as demais serão curtas e diretas) só faltou mencionar que existem níveis de planejamento. A informação que vai chegar a direção da empresa e ao encarregado que executa a pavimentação, por exemplo, não será a mesma, isso pelo simples fato que suas funções necessitam de dados diferentes para poder atuar, porém o planejamento atinge ambos. Em linhas gerais a direção se atém a números macros de custo e finalizações de marcos específicos da obra para Gerenciar. Já o encarregado (continuando o exemplo) está preocupado quantos caminhões de ‘massa’ ele vai soltar no dia seguinte e se o ‘burro preto’ está com RR suficiente e na temperatura certa. Falaremos mais sobre os 3 níveis de planejamento nos próximos textos.
Agradeço por ter lido até aqui. Toda sugestão ou crítica (construtiva) será bem-vinda.
Luiz H. Berloffa
Sócio-diretor da Planinfra – Projetos, Planejamento e Gerenciamento de Obras de Infraestrutura Ltda
Referências:
Planejamento e Controle de Obras – Aldo Dorea Mattos (2010)
Como Gerenciar Projetos de Construção Civil – Marco Antonio Portugal (2017)