Amigos da engenharia e curiosos, seguindo com os nossos artigos (se você não viu os primeiros veja aqui e aqui) hoje falaremos sobre “o que” será feito na obra, ou o escopo que é representado pela EAP (Estrutura Analítica do Projeto). A definição de EAP vem da metodologia de gerenciamento por projetos e segundo o PMBOK, a “bíblia” que regulamenta e padroniza este tipo de gestão, EAP é: “uma decomposição hierárquica do escopo total do trabalho a ser executado pela equipe do ‘projeto’ a fim de atingir os objetivos do projeto e criar as entregas requeridas”. Resumidamente ela é uma listagem de todas as atividades envolvidas na execução do ‘projeto’ que no nosso caso é a obra em si e que respeita uma certa ordem.
Bem, uma vez já definido o que é, vamos ao “como a obtemos”? Existem algumas formas de defini-la, dependendo principalmente da hora em que o planejador começará a atuar. Caso esteja envolvido no processo desde o início, suas ferramentas iniciais para construção da EAP serão, além de experiências anteriores (como já dito no 1º artigo nossos exemplos se baseiam em obras de loteamentos, porém podem ser extrapolados para obras similares de infraestrutura):
- Análise do terreno (tanto com o levantamento planialtimétrico quanto em visita técnica) – Aqui será identificado se necessitará de interferências em viários externos e acessos ao empreendimento (isso implica em demolições, ruas adicionais), se há corpos hídricos e possíveis travessias;
- estudos iniciais/conceituais/briefing – Pode-se identificar o porte e as características do empreendimento (se é loteamento aberto ou fechado, se há portaria, muros, clube, parque, ciclovia, paisagismo, etc.);
- diretrizes (tanto da prefeitura quanto das concessionárias/autarquias) – complementa-se a análise do terreno caso haja diretriz viária para a gleba em questão, se será necessária a extensão de adutora, Estação Elevatória de Esgoto, se será necessário extração de água através de poço, se precisará de Estação de Tratamento de Esgoto, etc.;
Quando o planejador entra no processo em estágios mais avançados (geralmente o nosso caso como prestador de serviço) existirão outros tipos de informações, geralmente mais precisas, e deverão ser analisados: Orçamentos, projetos, especificações, memoriais. Lembrando que os planejadores que estão envolvidos desde o início também deverão checar estes itens e alterar o que for necessário de acordo com os documentos mais detalhados.
Tanto em um caso quanto no outro, o processo da construção da EAP se baseia nas subdivisões de cada disciplina e no acréscimo das demais que se façam necessárias, porém há um limite. As subdivisões serão feitas até níveis aceitáveis de serviços que durem pelo menos 1 dia para serem feitos (não adianta detalharmos até o ponto de chegarmos a “instalação de trinco no banheiro do canteiro”, apesar de sabermos que isso será feito).
A imagem acima representa os primeiros 2 níveis de uma EAP que, com a utilização das ferramentas e subsídios já apresentados, ainda serão subdivididos até os níveis que se façam necessários. Podendo, dependendo da disciplina, chegar em níveis de detalhamento diferentes.
Outro ponto importante a se acrescentar é que existe muitas formas de se representar ou subdividir a EAP, e não existe uma maneira certa, o importante é que todos os serviços que serão realizados estejam contemplados. Veja abaixo outro tipo de EAP com uma diferente sistemática de hierarquia.
Notem que um mesmo item pode estar em diferentes níveis dependendo da abordagem. Por exemplo o item ‘Drenagem’, que na primeira EAP é um item de 1º nível e dentro deste estava contido o item ‘Travessia’, já na segunda EAP acabou se tornando um subitem de ‘Infraestrutura’ e a ‘Travessia’ acabou sendo alocada em ‘Obras Especiais’. Como já dito, os dois modos estão corretos, tudo depende de como o planejador e/ou a empresa preferem ou acham que fazem mais sentido dentro da sua sistemática.
Por fim, o uso do orçamento (que já vem com uma EAP definida pelo orçamentista) é muito útil mas não deve ser um “ctrl+c”/ “ctrl+v” da sua estrutura. Geralmente o orçamento considerado “executivo” deve contemplar alguns serviços nas suas minúcias e para efeito de planejamento deve-se passar um pente fino e realizar o agrupamento de algumas tarefas menores pensando-se, como já mencionado, em itens que possam ser melhor mensurados.
Espero que estejam gostando. Todos o comentário e críticas (construtivas) serão úteis.
Luiz H. Berloffa
Sócio-diretor da Planinfra – Projetos, Planejamento e Gerenciamento de Obras de Infraestrutura Ltda