Planejamento de Obras de Infraestrutura – Durações das Atividades

Amigos da engenharia e curiosos, hoje nosso tema será a estimativa inicial das durações das atividades listadas na EAP. Mas se você não acompanhou os textos anteriores sugiro que o faça através dos links: IntroduçãoNíveis e RoteiroEAP.

Antes de entrarmos no âmbito das durações, vamos definir a equipe base que é a equipe mínima necessária para a execução de uma determinada tarefa. A partir dela e de acordo com o porte da obra e o tempo que se tem para executá-la pode-se determinar a quantidade de pessoal necessário para execução individual das tarefas e portanto o total de mão de obra e equipamento necessário em todo desenvolvimento da obra. Isso se faz ainda mais importante quando tratamos de empresas de menor porte que possuem equipes multidisciplinares, ou que por exemplo alocam um equipamento de cada (dos mais utilizados e necessário na obra) e quando há necessidade fazem locações pontuais para a complementação e atendimento ao cronograma.

Os principais itens para análise e definição das durações são a EAP (texto passado) e o orçamento da obra. Do primeiro retiramos o que será realizado e do segundo além das quantidades (que são fundamentais para a determinação da duração) podemos ainda retirar a produtividade estimada pelo orçamentista (no texto 1 eu já havia mencionado o planejamento implícito no orçamento). Somente a título de registro, a produtividade, preferencialmente, deve vir de banco de dados da construtora. Levando-se em conta uma situação ideal, todas as empresas deveriam se preocupar em medir sua produtividade, pelo menos das principais atividades que executa em suas obras para poder apresentar orçamento e planejamento mais apurados. Porém, como sabemos que isso não é tão comum quanto deveria entre as empresas, o planejador deve recorrer a estimativas de banco de dados conhecidos (alguns livros de planejamento apresentam tabelas com índices de produtividade), de planilhas orçamentárias ou de um banco de dados próprio. Outra coisa que é importante ressaltar é que estes números podem oscilar pois dependem de muitas variáveis, algumas que podemos controlar e outras que infelizmente temos pouca influência.

Mas como realmente isso funciona??? Enfim teremos um exemplo prático (já não era sem tempo), vamos dimensionar a duração da execução de base de Brita Graduada Simples (BGS). Será um exemplo didático, porque usaremos como referência a tabela SINAPI (conhecida tabela de orçamento muito utilizada em obras financiadas pela Caixa Econômica Federal). Veja abaixo a composição analítica do serviço:

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Analisando a tabela observamos que precisaremos de Servente, Rolo Liso, Rolo de Pneu, Motoniveladora (nossa famosa ‘Patrol’) e Caminhão Pipa (além da própria BGS, é claro). Como a nossa pauta hoje é apenas a estimativa da duração da atividade, vamos relevar as informações adicionais que podemos ver na tabela (por enquanto). O que nos interessa no momento é a última coluna que é a Razão Unitária de Produção (RUP), esta seria quanto tempo o equipamento e/ou funcionário gasta para ‘fazer’ uma unidade do serviço. Resumindo é a quantidade de horas que a ‘Patrol’ leva para espalhar 1 m³ de BGS. E porque usei a Patrol como exemplo? Simples, assim como o pedreiro é usado como o item de referência na execução de paredes em alvenaria de blocos, a motoniveladora é quem ‘comanda’ o ritmo de produção desse serviço neste exemplo. Ressalto o “neste exemplo” porque ela geralmente dita o ritmo, mas existem outros fatores, que explico melhor abaixo, que podem mudar esta situação.

Quando usamos uma tabela de referência como a SINAPI temos que entender como os valores foram obtidos e sob que condições eles são verdadeiros. Para isso existem os Cadernos Técnicos das composições e sobre esta (BGS) em específico podemos ver que não contempla o transporte do material e isso pode mudar completamente a produtividade (imagine que você só possui 1 caminhão ‘toco’ na obra, ou se você tem que trazer a BGS de uma pedreira a 40km de distância). Outra coisa que pode-se observar no Caderno Técnico é que a RUP foi estimada para uma base de 15cm de espessura, portanto caso a obra demande uma espessura diferente, deve-se fazer adaptações.

Voltando a determinação da duração, precisamos da RUP da motoniveladora, para isso vamos dar uma olhada melhor em como ele aparece na composição:

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Para equipamentos nós temos 2 valores de RUP, um se refere a hora produtiva (CHP) e a outra improdutiva (CHI) e a RUP total do equipamento é a soma das duas, portanto temos uma RUP = 0,030. Mas o que nos interessa é a produtividade, a quantidade em m³ que se executa por hora, portanto o inverso da RUP ou uma produtividade de 33,33 m³/h.

Analisando a equipe base que está na composição da BGS, nota-se que foi adotado 1 unidade de cada um dos equipamentos e mão de obra (todos tem a RUP de 0,030), porém por conhecimento da execução deste tipo de serviço sabemos que 1 servente é pouco e será necessário além disso um ‘greidista’ para poder esticar linha e aferir as espessuras na passada da ‘Patrol’. Portanto teremos uma equipe de 2 serventes, 1 greidista e 1 equipamento de cada (com os respectivos operadores), além de precisarmos da quantidade suficiente de caminhões para atender a nossa demanda.

Vamos enfim estimar a duração da atividade, para tanto vamos imaginar um loteamento que possua 10 ruas com largura de 6,50m e comprimento de 500m cada e que a nossa BGS será executada em espessura de 15cm. Teremos um volume total aplicado de BGS de: 6,50 (largura) x 500 (comprimento) x 0,15 (espessura) x 10 (ruas) = 4.875 m³. A nossa produtividade adotada é de 33,33 m³/h e se tivermos um dia útil de 7 horas de serviço a produtividade diária é de 233,31m³/dia. Para o volume total da obra teremos então: 4.875/233,31 = aproximadamente 21 dias, certo? Em teoria sim, porém como já dito anteriormente existem muitas variáveis que influenciam a produtividade, desde a disponibilidade de insumos, todas as demandas que envolvem a gestão de pessoas (e suas complexidades), se as manutenções dos equipamentos estão em dia, a distância do canteiro até o local da execução, a realização dos ensaios de qualidade, outras diversas e o clima. Deste último, para nós aqui no Brasil o principal fator é a chuva (talvez ganhe um artigo em especial) que influencia muito na produtividade. Há como minimizar um pouco a sua influência programando-se as atividades que são mais afetadas para a época de estiagem, porém nem sempre é possível e além disso quase todas as atividades de infraestrutura sofrem em consequência da chuva. Lembrando que este exemplo foi meramente didático, em um planejamento real os quantitativos devem ser extraídos dos projetos, além disso nosso exemplo se baseou em apenas um item, como na prática teremos inúmeros itens para a estimativa das durações sugiro a utilização de planilhas voltadas especificamente para esta finalidade.

Resumindo então, dependendo de todos estes fatores que vimos acima o planejador pode (e deve) aplicar um coeficiente sobre esta duração calculada para adaptar a sua situação. Por isso a experiência de obra e de planejamentos prévios é muito importante na estimativa das atividade, desde que se faça ao final de cada obra um balanço do que foi estimado e do que realmente aconteceu (Lições Aprendidas) mantendo sempre o foco no ciclo PDCA*.

Espero que possa ter contribuído sobre o assunto, no próximo artigo falaremos sobre o plano de ataque e a sequencia executiva. Todos o comentário e críticas (construtivas) serão úteis.

Luiz H. Berloffa

Sócio-diretor da Planinfra – Projetos, Planejamento e Gerenciamento de Obras de Infraestrutura Ltda

*PDCA – Ciclo da melhoria contínua (Plan/Do/Check/Act ou Planejar/Fazer/Checar/Agir).

Com mais de 20 anos de experiência a equipe da Planinfra vai conceber a melhor solução técnica para o projeto de implantação do seu empreendimento no terreno que você tem.

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